sexta-feira, 21 de junho de 2013

Trabalho e Educação

Os trabalhadores no início do século XX não tinham uma escolarização e nem tão pouco uma visão política do seu papel, salvo algumas exceções. Para que pudessem trabalhar e desempenhar adequadamente suas funções conforme exigências da classe empresarial, estes trabalhadores passaram a contar com um processo de escolarização que atendesse aos interesses das classes dominantes. Eraldo Leme Batista, Doutor em Educação  pela UNICAMP, fez uma pesquisa para sua tese de doutorado sobre a relação entre trabalho e educação em meados do século passado. Abaixo, o vídeo de uma entrevista do Dr. Eraldo para a TV Univesp.
Diante da fala do Dr. Eraldo, creio que seja possível iniciar uma discussão sobre o papel do professor neste processo. Ou seja, o professor contribuiu para a construção da autonomia do aluno, ou para o fortalecimento de uma sistema educacional segregacionista e elitista?


Sobre o período relatado por Eraldo, quando estava cursando Licenciatura em Pedagogia, na Disciplina de História da Educação II, elaborei um pequeno texto sobre as 'mudanças' implementadas por Getúlio Vargas no sistema educacional brasileiro.
Mudar sem sair do lugar
             
             As décadas de 30 e 40 do século passado foram marcadas pelas políticas adotadas e implantadas por Getúlio Vargas. Político gaúcho que esteve no poder de 1930 a 1934, como chefe do Governo Provisório que impediu a posse do então presidente eleito Washington Luis (momento histórico que pôs fim a chamada República Velha, ou ainda, do “café com leite” porque políticos de Minas e São Paulo se revezavam no poder); de 1934 a 1937, tendo sido eleito presidente pela Assembléia Nacional Constituinte de 1934; e de 1937 a 1945, após o golpe de estado, período este também chamado de Estado Novo. Mas, vamos nos ater ao campo educacional e as mudanças que ocorreram neste período, e que o professor Amarílio Ferreira Jr. (2011) classifica como sendo o da descontinuidade sem ruptura, ou seja, “a mudança que acontece, mas não rompe com antigas ideias e essências”.
            A primeira mudança implementada por Vargas foi a quebra do monopólio do Colégio Pedro II, que por pouco mais de um século, desde o período imperial, era o único do país que certificava a conclusão do ensino médio. Assim, não era mais preciso que os alunos fossem até o Rio de Janeiro para conseguir a certificação e dar continuidade aos estados em nível superior. O Decreto nº 19.890 de 18/04/1931 promoveu a equiparação de todos os colégios secundaristas ao Pedro II. A reforma foi proposta por Francisco Campos que por meio de outros 5 Decretos, tratou de regulamentar e organizar a educação brasileira, na verdade não alterou a estrutura da educação primária e do Curso Normal. Em 1932 veio o “Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova” que pretendia tornar a educação acessível e igual para todos, sendo pública, gratuita e laica.
            Durante o Estado Novo, uma nova reforma agora implantada pelo ministro da educação Gustavo Capanema, que editou as “Leis Orgânicas do Ensino”, criando os sistemas de ensino profissionalizantes voltados para a indústria, comércio e agricultura. Capanema também manteve a formação de professores em curso de nível médio (Curso Normal). As propostas ficaram conhecidas como “Reforma Capanema”.
            Como se vê, mesmo com mudanças estruturais, o ensino continuou como vinha desde o tempo do Brasil Colônia, elitista e excludente. O desejo daqueles que defendiam o movimento Escola Nova foi satisfeito parcialmente, no sentido de ampliar o acesso, no entanto, isso não significou inclusão social, uma vez que foi mantida, e ainda com mais força a educação voltada para o pobre (trabalhador) e para o rico (a elite). Na verdade o ensino foi colocado ainda mais a serviço do capitalismo, cujo avanço, necessitava de uma mão de obra mais qualificada, porém não tão consciente quanto aos direitos. Era preciso uma massa trabalhadora que soubesse produzir mais e melhor, sem reivindicar melhorias da qualidade de vida, e nem que vislumbrasse a possibilidade de ascensão social.
            Getúlio Vargas voltou ao poder em 1951, como presidente eleito pelo voto direto,  exercendo a presidência até agosto de 1954, quando teria cometido suicídio. Ele foi visto pela população da época como o “pai dos pobres”, isso porque é inegável que alguns dos direitos da área trabalhista ou do voto feminino foram conquistas obtidas durante a Era Vargas, só que no campo educacional não se sentiu avanço, e, aliás, isso mantém-se até hoje, pobre freqüentando escola pública sem qualidade de ensino e rico freqüentando escola particular que oferece ensino de melhor qualidade e consistência. Isso quando se trata do Ensino Básico, uma vez que no Ensino Superior a situação se inverte, com pobres pagando por educação de qualidade duvidosa ofertas para instituições particulares enquanto que os ricos conseguem acesso às melhores universidades do país, as quais são públicas. Deste modo continuamos tendo educação para pobre e educação para rico. Não se rompeu com “antigas ideias e essências”, sendo assim, uma descontinuidade sem ruptura, ou seja, mudou-se sem sair do lugar.

Referência:
FERREIRA Jr. Amarilio. História da Educação Brasileira – da Colônia ao século XX. Guia de Estudos da disciplina História da Educação II, São Carlos – EdUFSCar 2010.


FERREIRA Jr. Amarilio. Vídeo Aula 2, disponível no Ambiente de Aprendizagem do Curso de Pedagogia cujo endereço é: http://ead.sead.ufscar.br/mod/resource/view.php?id=116226 acesso em 03 de outubro de 2011. 

Também na Disciplina de História II, em grupo produzimos um slide sobre as mudanças educacionais implementadas durante o regime militar. Para visualizar os slides clique no link abaixo que o levará para o site Slideboom:

http://www.slideboom.com/presentations/786107/HEII_Atividade_AIII2_Grupo_Verde


sábado, 15 de junho de 2013

Papel do Educador

Há pouco mais de três anos escrevi um texto chamado "Para Ser Educador" destinado a um projeto de blog que não foi adiante, chamado de 'Sou Educador'. Porém, como a vida é feita por sucessivas tentativas, idas e vindas, erros e acertos, optei por introduzir neste novo projeto o mesmo vídeo produzido naquela época.  



É que ainda tenho esta mesma visão sobre o que é ser educador, e o texto demonstra um pouco do papel desempenhado pelo tutor de Emílio, na obra de Rousseau. 
Contribuir para que o aluno descobra a si próprio e o mundo que o cerca é papel fundamental para o docente. 
Num curto depoimento, e de uma grandeza de coração e espírito, Paulo Freire deixou transparecer a alegria do educando com a aprendizagem (classificado pelo educador como 'processo da busca, da pesquisa') e a satisfação do educador ao ter contribuído para isso (quando afirma ter percebido 'o gosto da briga, o gosto da luta, para superar o obstáculo').


Justificativa

No século XVIII Jean-Jacques Rousseau descreveu, em uma das suas principais obras, a trajetória de Emílio e de seu tutor, demonstrando como seria o processo educacional para se formar um cidadão ideal. Este blog tem o propósito de apresentar textos e reflexões sobre a educação. Com ele buscamos construir um instrumento de pesquisa para estudantes de Pedagogia, professores e gestores. Ao dar ao blog o nome de 'Emílios do Silvio' não se trata de fazer valer as ideias de Rousseau como verdade única e indiscutível, nem tão pouco equiparar-se a ele, mas sim de uma maneira de homenagear este importante filósofo francês, que tanto influenciou a moderna pedagogia e enfrentou os detentores do poder ao defender a educação como um direito de todos, e um dos primeiros a ver a criança como um ser em formação. O vídeo abaixo, produzido pela Univesp, conta um pouco sobre Rosseau e seu personagem Emílio.



Durante o curso de Pedagogia, na disciplina de Filosofia da Educação, elaborei um texto pequeno texto com base na obra de Rousseau, o qual transcrevo abaixo:

Jean Jacques Rousseau

Vida

Rousseau nasceu 28 de junho de 1712, foi criado por seu pai, Isaac, já que a mãe, Suzanne Bernard, morreu durante o parto. Incentivado pelo pai, Rousseau começou a ler os livros deixados pela mãe. Ambos costumavam entrar pela madrugada lendo. Como seu pai se desentendeu com o capitão Guthier ele teve de abandonar a Suíça, e Rousseau ficou sob tutela do tio materno, Bernard, que aos 10 anos o mandou estudar da casa do ministro Lambercier, em companhia do primo de mesma idade que ele.
Foi aí seu primeiro contato com a educação, e ele achou tudo muito confuso: “aquele conjunto de coisas confusas... sob o nome de educação” (ZUIM & RIPA – 2009 pg. 64)
Quando adolescente Rousseau, sem sucesso, foi aprendiz de rábula, gravador, ainda em Genebra, e camareiro, quando se transferiu para Turim. Foi madame de Warens, “que lhe foi mãe, amiga e amante” (Idem) quem lhe deu oportunidade de estudar e entre os 1729 e 1730 foi aluno de música na do Sr. Le Maître. “Em 1740 Rousseau tornou-se preceptor de filhos do Sr. De Mably” (Idem).
Um ano depois ele foi para Paris e como o método musical que havia desenvolvido foi considerado complicado era visto como musico de segunda classe. O sucesso foi com a publicação dos Discurso sobre as Ciências e as Artes e Discurso sobre a Desigualdade.
As publicações foram no num período de 5 anos, entre 1750 e 1755, mesma época em que nasceram seus 5 filhos e que Rousseau os entregou para um orfanato, já que ele considerava que a educação das crianças cabe aos Estado, seguindo ensinamento de Platão.
Em 1763, Rousseau publicou Emílio, ou da Educação, e morreu 02 de julho de 1778.

Emilio, ou da Educação

Jean Jacques Rousseau foi critico das Ciências e das Artes por entender que suas descobertas afastavam os seres humanos de suas origens, e pregava a volta à natureza. A volta era “para que os alunos pudessem ser capazes de diferenciar ‘o que é fruto de uma falsa cultura e o que é típico da natureza humana’.” (Idem pg. 67). Apesar de órfão se mãe, e ter entregado seus filhos pequenos para um orfanato, Rousseau aponta que “o amor materno seria de fundamental importância, inclusive, para que a criança se sentisse segura para que gradativamente adquirisse a confiança para agir por conta própria.” (Idem – pg 69).
Porém, para ele isso não significa que as crianças devam ser privadas da dor, elas devem estar expostas a intempéries da vida para crescerem tanto fisicamente quanto espiritualmente. Ao sentir ou simular a dor a criança exercita seu lado humano ou tirano, respectivamente. Isso leva a criança para uma autenticidade que ela exercita com seu professor, com um querendo estar no lugar do outro, o que estabelece uma relação de confiança entre ambos.
Na relação estabelecida com Emilio, sobressai-se o modo como Rousseau expressa seu desejo de incentivar seu aluno a encontrar as respostas mediante o emprego de seu próprio esforço.” (Idem – pg 70). Algo que se assemelha a dialética socrática.
No livro, Rousseau, apesar de conhecer a resposta, aproxima-se de Emílio quando se coloca num nível de igualdade a ele. O genebriano deixa transparecer que também tem angustias e sofre com as situações inusitadas e os dois compartilham da alegria de juntos encontrarem uma solução para o problema. Rousseau como orientador e Emílio como descobridor de suas potencialidades e capacidade de aprendizado.

Bibliografia:

ZUIN, Antonio Álvaro Sores & RIPA, Roselaine – Guia de Estudos Filosofia da Educação: Trajetórias do Processo Formativo – UFSCar – 2009.